A ferritina é o estoque de ferro do nosso corpo. Quando a ferritina está baixa, dizemos que há deficiência de ferro. Já quando a ferritina está alta, dizemos que há excesso de ferro no organismo, não é mesmo? Sim e não. Vamos entender melhor. O excesso de ferro é uma causa de aumento da ferritina, porém não é a única.
O que muitos não sabem é que a ferritina também é um marcador inflamatório e que seus níveis se elevam em diversas condições que causam inflamação crônica no organismo, como por exemplo doenças crônicas, obesidade, esteatose hepática (“gordura no fígado”), infecções, consumo excessivo de álcool, entre outros. Desta forma, a ferritina pode estar aumentada sem necessariamente haver sobrecarga de ferro no corpo.
Há pacientes com doenças crônicas (como insuficiência renal crônica, por exemplo) que apresentam a ferritina elevada de modo persistente. Como podemos, então, identificar a deficiência de ferro se a ferritina está elevada por inflamação? Para auxiliar nesse dilema, usamos outro marcador dos estoques de ferro, chamado índice de saturação da transferrina (IST).
O IST é obtido através de um cálculo simples: divide-se o valor do ferro sérico (Fe) pelo valor da capacidade total de ligação ao ferro (TIBC) e posteriormente multiplica-se o resultado por 100 (IST = Fe ÷ TIBC x 100). Esse parâmetro não é influenciado por inflamação.
O IST inferior a 20% sugere deficiência de ferro (mesmo com ferritina alta); o IST 20-40% é considerado normal; o IST > 45% sugere excesso de ferro.
Vale lembrar que o sobrepeso e a obesidade também geram um estado inflamatório crônico e são causas de elevação da ferritina.
A ferritina é uma proteína fabricada pelo fígado e fatores que afetam esse órgão, como o acúmulo de gordura local e o consumo excessivo de álcool, também geram aumento deste marcador.
Na prática, quando estamos diante de um paciente com ferritina aumentada temos que responder a seguinte pergunta: a ferritina está alta por excesso de ferro ou está alta por inflamação? Uma história clínica detalhada aliada a um exame físico completo e alguns exames laboratoriais ajudam a esclarecer essa questão.
Como vimos, quando há excesso de ferro o IST costuma estar elevado juntamente com a ferritina. Nesses casos, podemos estar diante de um quadro de hemocromatose. A hemocromatose hereditária é uma doença genética na qual há alteração no metabolismo do ferro, levando a uma maior absorção e a acúmulo deste elemento no corpo. O ferro em excesso é tóxico e se deposita em órgãos nobres, como o fígado e o coração, podendo, com o tempo, acarretar disfunção desses órgãos. Para que isso não aconteça, removemos o ferro em excesso através da sangria terapêutica, que consiste na retirada de uma quantidade de sangue periodicamente, de forma semelhante como é feita na coleta para doação de sangue.

Se a sua ferritina está aumentada, consulte um especialista para entender a causa de sua elevação e tratá-la.